A Exposição Internacional de Grandes Mestres é um dos raros momentos em que é possível deleitarmo-nos com as obras de tão ilustres personalidades das artes plásticas nacionais e internacionais e conhecer algumas das histórias relacionadas, concretamente, com as obras apresentadas.
As obras expostas, resultantes de coleções privadas e que por isso raramente são vistas em exposições, dizem respeito a períodos específicos da vida dos artistas. É o caso da obra de Pablo Picasso “Sem Título” que pertence ao período que medeia entre 1916 e 1924 e faz parte das manifestações mais desconcertantes de toda a sua obra. Co–Fundador do cubismo ao lado de Georges Braque, tinha abolido da maneira mais consequente e radical as leis tradicionais da prática artística substituindo-as por novas regras. A imitação da realidade podia ser considerada, na altura, superada. Mas não, em pleno período cubista Picasso desconcertava o publico e os especialistas com desenhos e pinturas que voltavam a ser representações imitativas, estatuárias e monumentais. Por isso, este período é de coexistência e de contradições.
Já a obra de Robert Delaunay intitulada “Portugal O Minho” (técnica mista) foi realizada no nosso país, numa altura em que este se mudou para Portugal em 1915 onde partilhou casa com os artistas Samuel Halpert e Eduardo Viana durante o período da I Guerra Mundial. Artista Francês que com a esposa Sónia Delaunay e outros artistas fundou o movimento de arte “O Orfismo”, conhecido pelo uso de cores fortes e formas geométricas. Posteriormente, Delaunay abraça o abstracionismo e a sua influência principal relacionou-se ao uso ousado da cor e uma clara dedicação pela experimentação com profundidade e tom.
Outro dos artistas importantes presentes nesta exposição é Salvador Dali relevante pintor espanhol, conhecido pelo seu trabalho surrealista. As obras de Dalí chamam a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos mestres do classicismo. O seu trabalho mais conhecido, tem como título “A Persistência da Memória”, concluído em 1931. A obra de Salvador Dali patente nesta exposição intitulado “Projeto de decoração “é de 1954, exatamente no ano em que o artista pinta “Crucificação” obra que está no Museu Metropolitano de Nova Yorque. Esta obra descreve Jesus crucificado na rede de um hipercubo e contem uma imagem de Gala a esposa do artista.
Também Paula Rego faz parte desta exposição de grandes mestres e as suas obras são de épocas distintas do seu trajeto artístico. “Ansiedade de Agosto”, é de 1961 logo a seguir a uma série de acontecimentos familiares que produzem na artista um sentimento de tensão trágica; a morte do pai, o declínio dos negócios familiares e o diagnóstico da doença que afetará Vitor Willing até ao final dos seus dias. No ano de 2007 Paula Rego sofre uma depressão profunda e encontra no desenho e na pintura a saída para a doença, “Lucy`s eyes” faz parte deste conjunto de trabalhos que contribuiram para a artista ultrapassar esta crise.
Também podemos apreciar na exposição duas obras de Andy Warhol: Bota e Querelle. Warhol começa a sua carreira de sucesso como artista gráfico. A sua primeira mostra individual acontece 1952, na Hugo Gallery onde exibe quinze desenhos baseados na obra de Truman Capote. Esta série de trabalhos é mostrada em diversos lugares durante os anos 50, incluindo o MOMA, Museu de Arte Moderna, em Nova Iorque, em 1956.
Os anos 60 marcam uma viragem na sua carreira de artista plástico e passa a utilizar os motivos e conceitos da publicidade nas suas obras, com o uso de cores fortes e brilhantes à base de tintas acrílicas. Reinventa a Pop Art com a reprodução mecânica utilizando temas do cotidiano e artigos de consumo, como as reproduções das latas de sopas Campbell e a garrafa da Coca-Cola, além de rostos de figuras conhecidas como Marilyn Monroe, Elvis Presley, Che Guevara, Mao Tsé-Tung entre outras. A obra Querelle, aqui presente, foi capa da banda-sonora do filme de Fassbinder e que tem o mesmo nome.
Muitas outras, são as histórias vividas por estes grandes artistas e que agora esta exposição, patente no Mosteiro de Ancede, em Baião, nos permite conhecer.
A terminar reitero os parabéns ao Município de Baião pelo arrojo e determinação no caminho de uma nova oferta cultural de qualidade como é esta exposição internacional de Grandes Mestres, pois como diz o Presidente da Câmara, Dr. Paulo Pereira “não é todos os dias que fora dos grandes centros urbanos ou num equipamento cultural que está a nascer, se pode apreciar uma exposição deste calibre”.
Cabral Pinto, Curador