A sessão anual de homenagem póstuma a Orlando de Carvalho decorreu este domingo, 1 de dezembro, em Santa Marinha do Zêzere, na Sala de Estudos e Documentação com o seu nome (SEDOC) e voltou a ser um momento para recordar a bravura, coragem e determinação desta figura cimeira da freguesia. A sala encheu para lembrar e enaltecer o jurista, poeta e homem de compromisso cívico e político, que por esta altura cumpriria o seu 93º aniversário.
Ao convidado central, Alberto Martins, ex-Ministro da Justiça, deputado da Assembleia da República e ativista na maior “crise académica” de Coimbra, em 1969, juntou-se Paulo Pereira, presidente da Câmara Municipal de Baião, Manuel Pereira, presidente da Junta de Freguesia de Santa Marinha do Zêzere, José Luís Carneiro, presidente da Assembleia Municipal de Baião, Helena Carvalho, sobrinha de Orlando de Carvalho e José Teixeira de Sousa, representante da SEDOC. Na plateia, repleta de admiradores da personagem e obra de Orlando de Carvalho, estiveram muitos populares locais, outros elementos do executivo municipal, autarcas e ex-autarcas, deputados municipais e representantes de várias associações.
Manuel Pereira foi o primeiro a tomar a palavra lembrando “a dignificação que o nome de Orlando de Carvalho traz à freguesia” que lidera, evocando “o seu combate cultural e cívico contra a ditadura, e depois na transição democrática, que deixara marcas profundas de liberdade na vida dos portugueses. Motivo de profundo agradecimento e admiração”.
Helena Carvalho apelou à solidariedade de todos os presentes, lembrando “que não basta dizer, é preciso fazer. Participar na vida política e cívica é também uma homenagem que estamos a fazer a Orlando de Carvalho. É preciso participar mais”, pediu. A sobrinha do homenageado fez também uma referência à Sala de Estudos e Documentação Orlando de Carvalho como “um grande foco cultural convidando os cidadãos a visitá-la com mais regularidade”.
Na sua alocução, o representante da SEDOC, José Teixeira de Sousa, fez um discurso emocionado onde lembrou episódios que tiveram Orlando de Carvalho como protagonista e que aludem “à sua bravura e garra, momentos de intervenção cívica que permitiram enfraquecer a ditadura”.
Paulo Pereira frisou que é “precisamente por figuras com a persistência de Orlando de Carvalho que hoje todos, cada um na sua condição, pode estar, participar e viver numa sociedade livre”. O presidente da edilidade agradeceu aos elementos da comissão da SEDOC pelo trabalho desenvolvido “em torno da figura ímpar, do ponto vista académico e intelectual, do ativista político”.
José Luís Carneiro disse justificar-se “um debate sobre o reforço do poder dos cidadãos nas eleições, principalmente pelo seu afastamento da política e dos políticos, facto bem visível quando olhamos para os números da abstenção em qualquer ato eleitoral”. O presidente da Assembleia Municipal de Baião mostrou “preocupação, sobretudo com o afastamento dos jovens da vida política”.
Alberto Martins lembrou a luta académica de Coimbra, as suas repercussões e a atualidade social. Recordou Orlando de Carvalho como “um homem inspirador, um génio, um gigante, um humanista, uma figura cultural e luminosa dos anos 60 na Universidade de Coimbra”. Recordou, sobretudo “a sua coragem e luta, relatando alguns episódios vividos por si na crise académica de 1969, quando os estudantes da Universidade de Coimbra afrontaram o regime, clamando por mais direitos, democracia e melhor ensino”.
O público interagiu com a mesa. Amigos, ex-alunos e colegas tomaram a palavra para, também eles, saudarem Orlando de Carvalho por mais um aniversário.
No final, o público ouviu os baionenses Barro Negro numa atuação evocativa da Liberdade.
O evento é uma organização conjunta da Câmara Municipal de Baião e da Sala de Estudos e de Documentação de Orlando de Carvalho e pretende relembrar a ação de um homem que para além da vida académica foi ativista político e resistente antifascista, poeta e dinamizador cultural. Orlando de Carvalho nasceu em Santa Marinha do Zêzere em 1926 e faleceu no ano 2000. Deixou o concelho para estudar, mas nunca deixou de visitar a sua terra natal, onde se encontra sepultado.
Desde 2012 já passaram por estas sessões anuais grandes nomes do Direito como Alberto Martins, Pedro Bacelar Vasconcelos, Cândido Agra, Vital Moreira, entre outros, incluindo membros do Governo.