As personagens Jacinto e José Fernandes, da obra literária “A Cidade e as Serras” de Eça de Queiroz, poderão ganhar uma “nova vida” e ser adaptadas à grande tela.
A candidatura para o filme “A Cidade e as Serras”, foi submetida ao Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), que todos os anos apoia a produção de obras cinematográficas.
Caso seja aprovada a candidatura, a longa-metragem será realizada por Francisco Manso, produzida pela TAKE2000 do prestigiado produtor José Mazeda, e conta com o apoio da Câmara Municipal.
As filmagens serão realizadas maioritariamente no concelho de Baião, aproveitado ao máximo as paisagens e edificado que deram cor à história narrada pelo escritor Eça de Queiroz.
Para o presidente da autarquia baionense, Paulo Pereira, “é uma satisfação e uma honra podermos fazer parte de um projeto que visa levar para o cinema uma das mais importantes obras da literatura portuguesa, contribuindo, ainda, para o aumento da notoriedade a nível nacional e internacional de Baião, sendo um projecto de fôlego e de prestígio na linha da política de promoção que temos vindo a estruturar nos últimos anos, mas também um reconhecimento ao trabalho da Fundação Eça de Queiroz”, referiu.
O livro “A Cidade e as Serras”, nunca antes adaptado em filme, conta-nos a história de Jacinto, nascido e criado na opulência de Paris mas com riqueza produzida nas “terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olivados” dos seus antepassados em Portugal. Quando jovem, Jacinto acha que só podemos ser felizes aliando a cultura à técnica, e consequentemente gasta a sua elevada renda anual em livros e em todos os gadgets da altura. O sumptuoso 202, nos Campos Elísios, era uma montra de progresso técnico, com eletricidade, elevador, telefone, telégrafo, máquina de escrever, máquina de calcular, e uma biblioteca com mais de trinta mil volumes. No entanto, Jacinto passa a sua sumptuosa vida a exclamar “que maçada” a tudo o que o rodeia e a tudo o que lhe acontece.
Aos 34 anos, pela primeira vez, Jacinto resolve vir a Portugal, a Tormes (Baião). Previne por carta o seu procurador da viagem, encomendando-lhe obras à casa da Serra e envia três dezenas de caixotes com o indispensável para os seus pequenos confortos. Parte uns meses depois com 23 malas para uma estadia estival no Douro. Uma série de percalços determinam que Jacinto chegue a Tormes sem que ninguém o espere, tendo-se as 23 malas transviado e os caixotes desaparecido algures entre Paris e Tormes. Apenas com a roupa que tem no corpo, Jacinto chega a uma casa em ruínas, sem mobília e sem que ninguém saiba que ele está a chegar. A carta também se tinha perdido e as obras na casa ainda nem tinham começado e é assim que o mais dandy de todos os parisienses se vê compelido a dormir num colchão improvisado com roupas emprestadas dos caseiros…
José Mazeda
José Mazeda, fundador da produtora Take 2000, nasceu em 1950 em Macedo de Cavaleiros e fez o curso da Escola de Cinema do Conservatório (actual Departamento de Cinema da ESTC). Produziu filmes como: “O cônsul de Bordéus”, “Assalto ao Santa Maria”, “Adriana”, “El viaje de Carol”, “O Rapaz do Trapézio Voador”, “Quando o Sol Toca na Lua”, “Mararía”, “Atilano, presidente”, “Le bassin de J.W.”, “Secretos del corazón”, “Ao Sul”, “A firma Pereira”, “Amor & Alquimia”, “Rosa de Areia”, “Le cercle des passions”, “Rita”. Foi diretor de produção (responsável pela equipa portuguesa) de “The Ninth Gate”, um filme de Roman Polanski, e de vários outos filmes, e foi ator não creditado em “Le bassin de John Wayne”, um filme de João César Monteiro.
Francisco Manso
O realizador Francisco Manso, nasceu em Lisboa, a 28 de novembro de 1949, conta com uma longa e produtiva carreira, iniciada na década de 80, e um vasto currículo que inclui várias produções premiadas internacionalmente. Autor de diversas longas-metragens realizadas para cinema, com destaque para “O Testamento do Senhor Napumoceno” (1997) e “O Cônsul de Bordéus” (2001) e séries de televisão como é o caso da série “O Nosso Cônsul em Havana”, sobre Eça de Queiroz, exibido na RTP1.