A bengala de Cohen, obra de arte criada pela prestigiada artista portuguesa Cristina Rodrigues, é a peça central de uma exposição (Home is the Cathedral of Life) que vai abrir ao público no próximo dia 4 de outubro, numa das mais importantes galerias de arte do mundo, as Naves Matadero – Centro Internacional de Artes Vivas, em Madrid.
Uma criação que “mistura na perfeição” o emblemático mundo Queirosiano, com a cultura, a arte e o ofício tradicional da construção da bengala de Gestaçô.
A ideia da artista Cristina Rodrigues surgiu depois de ter sido desafiada pelo executivo da Câmara Municipal de Baião para realizar uma obra que conjugasse arte tradicional numa peça de arte contemporânea.
A bengala de Cohen, artefacto usado por uma personagem do livro “Os Maias”, de Eça de Queiroz, foi a inspiração para a artista plástica construir uma peça impactante e singular.
Bengala de Gestaçô
As primeiras oficinas de bengalas surgiram em Gestaçô nos finais do séc. XIX. O grande impulsionador do ofício foi então Alexandre Pinto Ribeiro, que em 1902 ali instalou a sua oficina. Pinto Ribeiro revolucionou todo o processo de fabrico das bengalas e cabos de guarda-chuva, ao introduzir uma pequena inovação: a técnica da dobragem. Esta consiste em dobrar as pontas das tiras de madeira amolecida em água a ferver, com ajuda de uma barra metálica, o que permite maior economia em termos de matéria-prima, e a obtenção de uma bengala de maior qualidade.
A partir desse avanço tecnológico, Gestaçô tornou-se uma referência a nível nortenho, tanto na produção da bengala como da mão de guarda-chuva, crescendo o número de encomendas do Porto, São João da Madeira e Braga. Com a técnica veio a criatividade e o surgimento de vários motivos e desenhos originais para embelezar as bengalas: cabeças de animais, cerejeira polida, incrustações de madrepérola, prata ou ouro.
Com o passar das modas a bengala deixou de fazer parte da indumentária masculina e as mãos de guarda-chuva começaram a ser fabricadas em plástico, o que provocou o fecho de muitas oficinas em Gestaçô. A generalização da Queima das Fitas a nível nacional veio, no entanto, dar um novo fôlego ao ofício: todos os anos cerca de 30 mil universitários dão bengaladas com madeira dobrada e trabalhada naquela freguesia baionense.
Bengala de Cohen
A obra “A Bengala do Cohen” é um jardim em ferro, um lugar, portanto, imutável. Sempre branco e imaculado, onde a memória é materializada em ferro e por isso, também ela, perene.
A obra “A Bengala do Cohen” é representada por uma pirâmide de bengalas de Gestaçô ao centro, com o punho esculpido em cabeças de galgo, rodeadas por um jardim de flores regadas pelo tempo.
A obra congela as memórias de um lugar onde Cristina Rodrigues considera que foi feliz, onde descobriu a literatura, a natureza e Santa Cruz do Douro, local onde passava as férias na sua infância.
Esta obra estará exposta aos olhares de um público conhecedor e exigente, numa exposição na qual estarão presentes na abertura renomados críticos de arte e curadores de museus de vários países europeus.
A exposição tem o apoio da Embaixada de Portugal em Espanha e do Instituto Camões.