O edifício da “Casa da Hospedaria e Casa dos Moços”, no Mosteiro de Santo André de Ancede, foi o espaço escolhido para albergar uma exposição dedicada à arte sacra que contempla o espólio doado ao Município por um dos mais importantes colecionadores do país, António Miranda.
A inauguração da exposição teve lugar no último domingo, 24 de fevereiro, e ao executivo municipal juntou-se o doador da coleção, António Miranda, o presidente da União de Freguesias de Ancede e Ribadouro, Daniel Guedes, o pároco da freguesia, Francisco Pedrosa, e muitos populares.
A cerimónia de inauguração da exposição teve um primeiro momento nos jardins do Mosteiro de Santo André e, depois do descerrar da placa, os presentes foram convidados a ver em primeira mão a coleção, que é composta por 23 peças de escultura e de pintura.
Das 23 peças expostas destacam-se o número os cristos crucificados, estando representados diversos períodos históricos e artísticos, enquadráveis cronologicamente entre os séculos XVI e XIX. Destaque, também, para a majestosa figura de S. Bartolomeu, padroeiro da sede do concelho.
A exposição está instalada no edifício já intervencionado pelo Arquiteto Siza Vieira (Casa dos moços), sendo a primeira componente do projeto de recuperação integral dos espaços do Mosteiro de Santo André de Ancede, e é da autoria da empresa “Glorybox”, que recentemente ganhou o mais importante galardão internacional na área da museologia.
Esta exposição é o primeiro passo para um projeto ambicioso de se constituir um Núcleo museológico dedicado à área, estando aberta a novas aquisições e a acordos com os párocos para a sua integração, compreendendo uma componente de salvaguarda e recuperação do património considerado importante.
Antes do descerrar da placa, António Miranda deixou um repto: “se todos os párocos do concelho de Baião doarem ou emprestarem uma peça, o Núcleo reforçará a sua importância”. O colecionador fez questão, também, de dar nota ao público presente “da satisfação que sente por constatar a forma inteligente como a autarquia baionense trabalhou a sua doação, criando condições de excelência para albergar as peças doadas e colocando-as à disposição do público num local com tanta importância histórica”. O doador deu conta do seu amor pela terra e elogiou “o trabalho que o executivo municipal tem feito em prol dos baionenses”.
Daniel Guedes agradeceu a António Miranda a doação das peças e mostrou a “honra sentida por toda a freguesia” que lidera por ver “tamanho património cultural em Ancede”.
Anabela Cardoso, vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Baião lembrou que “a coleção vem juntar ainda mais valor ao já valioso Mosteiro de Santo André, enriquecendo a visita guiada. Os apreciadores de arte sacra encontram aqui um pedaço de história numa simbiose perfeita entre culto e cultura”.
Paulo Pereira mostrou-se muito honrado, como autarca, pela oferta ao Concelho e, depois de agradecer a António Miranda, frisou estarmos “perante a oportunidade única de usufruir de um património que revela traços de fé e de religiosidade muito significativos culturalmente. Mais: esta exposição constitui uma valorização importante deste espaço, da nossa cultura e da nossa história”, nota o autarca. “Muito nos honra que Baião tenha sido o concelho escolhido para a albergar. Tudo faremos para honrar e engrandecer este gesto do Dr. António Miranda, e desejo que o maior número possível de pessoas possa visitar esta exposição, porque vale muito a pena”.
Um colecionador ímpar
Antiquário conceituado entre os antiquários do nosso país, António Miranda, patrono da exposição, é natural de Santa Cruz do Douro. A sua paixão pelo colecionismo manifestou-se durante a infância. As moedas foram a sua primeira experiência. Mais tarde, durante o liceu, dedicou-se aos selos e, já na faculdade de Coimbra, todas as poupanças que conseguia amealhar eram gastas em ferro-velho e lojas de velharias. Foi nessa altura que o gosto por imagens religiosas se foi apurando, através do estudo e prospeção pelos museus, bibliotecas e antiquários da velha cidade universitária. Já depois de formado, mal se viu com o seu primeiro ordenado, então de aspirante miliciano, comprou a imagem que “namorou” durante largos meses. Esta teria sido a primeira das milhares de peças que juntou em mais de cinquenta anos e que hoje preenchem as suas residências em Lisboa e Santa Cruz do Douro, tal como a Galeria da Arcada, de que é proprietário, em Lisboa, e ainda a coleção de Cristos, que doou à Irmandade dos Clérigos no Porto. Hoje é uma autoridade em arte sacra e faiança portuguesa por quem, aliás, se assume apaixonado. E a faiança atrai-o por várias razões: “as formas, as cores, os desenhos. É um mundo.”
A exposição passará a integrar a visita ao Mosteiro de Santo André de Ancede que recebe visitantes de quinta-feira a domingo das 9h00 às 13h00 (última entrada para visita às 12h00) e das 14h00 às 17h00 (última entrada para visita às 16h00).