A abrir a sessão, o presidente da Câmara Municipal de Baião, Paulo Pereira, explicou que o evento segue-se a outro já realizado em 2016, para assinalar os 950 anos de existência do documento mais antigo conhecido com referência a Baião (mais concretamente às “terras de Bayan”). “Este documento já era conhecido e tinha sido publicado. Contudo, a investigação que estamos a fazer no âmbito da História Económica e Social de Baião deu o impulso final para que o evento surgisse. Ela permitiu trazer «uma nova luz» sobre o documento e reforçou a ideia de que este é um dos mais importantes legados que o executivo camarário deixará aos baionenses”, referiu Paulo Pereira.
O presidente da Assembleia Municipal de Baião, José Pinho Silva agradeceu à Câmara Municipal de Baião por ter instituído o “Dia do Município”, que será, futuramente e cada vez mais, uma jornada com impacto e repercussão na vida dos baionenses. José Pinho Silva lembrou ainda a “história riquíssima” de Baião e salientou o papel dos cidadãos na sua construção. “Todos os dias as pessoas vão continuar a afirmar o nome do nosso concelho, seja publicamente e debaixo dos «holofotes» ou no trabalho e nas relações pessoais e sociais de cada um. Todos têm o seu espaço e o seu papel na construção de um Baião mais próspero e mais desenvolvido”, referiu.
CUMPLICIDADES
Após a atuação conjunta das bandas musicais (ver notícia “Bandas de Ancede e de Santa Marinha do Zêzere estiveram lado a lado no Dia do Município”), teve lugar o aguardado painel de testemunhos. Aqui ficou patente a cumplicidade entre os intervenientes, decorrente da pertença comum a Baião. Susana Ferrador e Ricardo Vaz Monteiro, conhecido no Mundo do Futebol por “Tarantini” ainda não se conheciam. Mas o trato informal começou logo ali, com toda a naturalidade. Mas também a referência feita pela moderadora ao primeiro livro que leu: “A Aldeia das Flores” obra publicada em 1979 por António Mota. O escritor premiado e agraciado pelo Presidente da República, que se sentava ali ao seu lado.
“Sinto que há qualquer coisa que nos liga. A todos os aqui presentes. Os baionenses são próximos uns dos outros e cria-se logo uma familiaridade entre nós. Acho que ser de Baião também é uma marca”, referiu Susana Ferrador.
E, de facto, se há marca que os quatro presentes confirmaram é o facto de Baião ser sempre um porto seguro, um porto de abrigo. É assim para António Mota (que só consegue escrever em Ovil, na sua “toca”). Para Tarantini que volta a Gestaçô para encontrar a calma e a tranquilidade. Mas também para Susana, que suspira de alívio cada vez que pode vir carregar baterias “na sua terra”, onde encontra conforto nos assados que a mãe faz no forno a lenha. António Almeida, esse, pode ser visto regularmente a manter a forma física em corridas na Estrada Nacional 108, entre Santa Cruz do Douro (onde vive) e São Tomé de Covelas.
CINCO LETRAS QUE NOS UNEM
Mas Baião vai com eles para todo o lado. Tarantini era conhecido por “Baião” quando chegou à Universidade. Pelo mesmo epíteto, ou então por “menina de Baião”, é conhecida Susana Ferrador nos diversos locais por onde tem construído a sua carreira profissional.
E António Almeida encontrou árbitros internacionais de futebol de praia, no estrangeiro, a quem entregou miniaturas das Bengalas de Gestaçô. Descobriu, então, que eles já tinham visitado o nosso concelho, pela “mão” de outros baionenses, que assumiram a pele de “embaixadores” do nosso concelho.
António Mota também encontra referências a Baião nas sessões que faz em escolas de Portugal e do estrangeiro. Por vezes, os filhos de emigrantes invocam as raízes baionenses e o escritor procura sempre saber mais pormenores, como a geração e a freguesia a que pertencem.
“Havemos de descobrir que há cinco letras que nos unem, as cinco letras da palavra Baião”, resumiu António Mota ao ler um texto original – “A Minha Terra” -, escrito nas vésperas daquele encontro. Nele o escritor fala-nos do tempo da sua infância e adolescência vivido em Ovil e nos lugares que compõem a freguesia “terra, outrora coberta pelo negrume do chão revolvido no tempo das vessadas”, muito marcada pelas vivências rurais e agrícolas e pelas festividades associadas aos santos populares. Fala-nos também dos elementos – da sombra dos amieiros onde se refugiava nos dias de canícula ou dos açudes do rio Ovil, imaculado e transparente, onde aprendeu a nadar.
CURIOSIDADES E CONSELHOS
Essas foram algumas das vivências partilhadas na sessão, histórias pessoais mas que fizeram tocar uma campainha de familiaridade em cada um dos presentes no auditório. Nelas cabem também as lembranças do penedo em Almofrela, onde António Mota foi buscar inspiração para escrever o seu primeiro livro na primavera de 1975.
Ou as memórias dos 26 anos em que António Almeida pertenceu ao Rancho Folclórico de Santa Cruz do Douro, associação onde também militou como atleta do futebol e do futsal.
Tarantini, que deseja construir uma casa com vista para o Douro em terras de Baião recordou os tempos difíceis em que tinha que conjugar os estudos com as viagens para Amarante, cidade onde começou a fazer-se jogador de futebol. Já naquela altura “andava sempre com a bola nos pés” e não perdia a oportunidade de jogar com os amigos. Se estivessem só dois, o outro iria à baliza, para Tarantini treinar mais uns remates. “Sonhei ser jogador de futebol e consegui. Se eu fui capaz, outras pessoas de Baião também poderão. Mas na base de tudo está a educação que recebemos da família e o esforço e a dedicação que pomos naquilo que fazemos”, asseverou.
Susana Ferrador mantém a ligação ao concelho com visitas à família, mas também através de atividades nas quais se envolve, sejam espetáculos musicais, eventos de recolha de fundos para solidariedade ou eventos desportivos.
EXISTE “RECEITA” PARA O SUCESSO?
Mas, como chegar a um patamar alto, seja no futebol, na arbitragem, nas artes ou em qualquer outra área?
“Inspiração é fácil. O resto é trabalho”, garante António Mota que no caso da escrita garante que ninguém “vai lá” sem ler muito. A “imortalidade” pode não estar garantida, acha o escritor: “se quando eu morrer um livro ficar para a posteridade, será o «Pedro Alecrim». Mas, ao menos os CTT têm que se lembrar de mim, porque já tenho uma rua com o meu nome”, atirou, arrancando uma gargalhada (mais uma) à plateia.
Tarantini, com duas licenciaturas e um mestrado, é hoje capitão de equipa do Rio Ave, um caso raro no futebol. Para ele os estudos sempre foram uma “ferramenta” para o dia em que a sua carreira de futebolista terminasse, ou caso até nem chegasse a futebolista profissional. Após ter atingido o sucesso, o objetivo continua a ser deixar uma marca no futebol. O atleta baionense já lançou um projeto (Tarantini.pt) onde pretende alertar atletas profissionais para a necessidade de terem um “plano b” quando abandonarem a competição. O futebolista ainda não sabe porque funções passará o seu futuro quando abandonar os relvados. Mas duas coisas são certas: procura abrir o maior número de “caminhos” possível e aquele por onde optar será marcado pela competência e pela credibilidade. Outro aspeto importante passa pela ambição e por não parar quando se atingem os primeiros frutos. “O Cristiano Ronaldo tem quatro bolas de ouro e vai atrás da quinta…”.
Para António Almeida o caminho passa pela crença, pela força de trabalho e por nunca desistir. “Eu caí de para-quedas na arbitragem. Foi um colega que me inscreveu. Ele nunca frequentou o curso e eu cheguei a árbitro internacional”, observou Almeida, a encerrar a sessão, que foi animada e terminou com um convívio, também animado, entre os oradores, os elementos das bandas e todo os que assistiram ao evento.